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Vivemos num sociedade devoradora de quantidades inenarráveis de energia para satisfazer necessidades básicas e outras não tão básicas assim. Sabemos que a situação é insustentável por razões múltiplas, exempli gratia o carácter finito da maior parte das fontes dessa energia e as consequências que têm no meio que habitamos; mas, tal como o Estado português, fazemos de conta e vamos inventando hipóteses de solução, com fontes energéticas pouco eficientes, toscas e - era aqui que queria chegar - perigosas. Refiro-me à energia nuclear para fins pacíficos.
A indústria de construção de centrais nucleares tem uma dimensão brutal, em fase com a brutalidade da energia que produz. O lóbi nuclear é medonho e tenta convencer o pagode que a técnica é segura e que as reservas levantadas por muitos são manifestações primárias de obscurantismo. Não nos explica como se resolve o problema do lixo nuclear produzido nas centrais, nem gosta de ouvir falar dos acidentes que vão ocorrendo aqui e ali: que não, que tudo isso são coisas do passado, coisas de países sem classificação, como aconteceu em Chernobil, blá, blá, blá.
É verdade que não há nada 100% seguro e limpo em matéria de energia e até as turbinas eólicas e as barragens podem protagonizar acidentes. Mas há acidentes e acidentes, e os acidentes com centrais nucleares têm contornos assustadores. Por outro lado, vemos agora no Japão, País tecnicamente muito avançado, onde a disciplina industrial é prussiana, um gravíssimo acidente na central de Fukushima. E porque ocorreu tal acidente? Porque as forças da natureza, indomáveis e imprevisíveis, provocaram o colapso do sistema de arrefecimento do reactor. Só isso. Quantas vezes pode isso acontecer no futuro, neste ou noutro local? Ninguém sabe! O mal, verdadeiramente, é que as consequências são de meter medo: trinta e cinco anos depois do acidente em Chernobil, ainda anda gente pelo mundo a arrastar as consequências trágicas daquele acidente. Pensemos bem nisso, antes de emitir opiniões sobre o nuclear.
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