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O jornalismo em geral, e em Portugal em especial, é deplorável. As redacções, além de estarem comprometidas com opções políticas e trabalharem militante mas disfarçadamente na defesa das suas cores, exploram o escândalo, o inesperado, o chocante. A técnica consiste em escrever coisas que estão perto da verdade, mas fora do contexto, de forma a distorcer o significado que pode ser bastante diferente.
Hoje, na capa do “Expresso”, lê-se: “Catroga diz que não sabe como Celeste Cardona apareceu na lista" (de nomeações para a EDP). Sem mais. Quem lê tal fica convencido que Catroga acha Celeste Cardona sem qualificação para a nomeação e manifesta assim surpresa por ela ter aparecido na lista das nomeações. Na verdade, lendo a notícia e ouvindo Catroga no vídeo da entrevista, constata-se que ele apenas explica porque outros elementos da lista estão lá e, em relação a Cardona, diz que ignora qual a lógica a que obedeceu a sua inclusão. Sem surpresa pela inclusão, sem apreciação crítica, mas ignora. E acrescenta até que por essa razão, não quer pronunciar-se sobre tal matéria. Há aqui um subtil enviesamento que faz toda a diferença. No primeiro caso, Catroga não concordaria com a nomeação de Cardona e até nem perceberia porque ela entrou na lista dos nomeados. No segundo caso, Catroga não se pronuncia sobre justeza da inclusão de Cardona e explica que não sabe qual foi o critério da sua inclusão, sem mais.
Catroga é um insensato, especialista em dizer o que não deve, da forma menos própria. É do conhecimento geral. Tem todas as condições para ser usado neste tipo de jornalismo rasca, de esperteza saloia. Como acontece com outros políticos que nunca deviam abrir a boca, verbi gratia Manuela Ferreira Leite. Mas as redacções e os senhores jornalistas não deviam fazer de nós parvos. Sobretudo porque quando eles nasceram, já nós tínhamos contactado com lixo redactorial suficiente para nos imunizar contra esta peste da meia verdade.
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