segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

ESPELHO MEU...

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Num inquérito realizado em 1999 e dirigido a intelectuais de várias áreas, perguntava-se qual foi a mais importante invenção dos últimos 2000 anos. Naturalmente que as respostas são muito diversificadas, embora predominem alguns temas, como a imprensa, a electricidade, a pílula anti-concepcional, o princípio de igualdade dos cidadãos, os computadores e por aí fora. Mas há respostas curiosas, como a de um dos interrogados que elege os óculos para ler, porque considera a leitura indispensável a todos que exercem funções de gestão dos povos e, sem os tais óculos, a humanidade ficaria entregue a gente com menos de 45 anos, sem experiência suficiente para liderar o mundo. Há mais coisas do género, mas queria referir uma, do intelectual já citado neste blog a propósito da “reincarnação contínua” do homem, o dinamarquês Tor Nørretranders.
 Tor Nørretranders considera o espelho como a mais importante invenção dos últimos 2000 anos. Antes o homem podia ver a sua imagem em lagos e superfícies metálicas, mas só esporadicamente. A partir da Renascença, com a utilização do espelho nos hábitos diários, o homem mudou: na maneira de vestir e em muitos outros comportamentos. Mas, mais do que isso, permitiu ver-nos tal como nos vêm os olhos dos outros e não apenas como nos imaginamos, ou como somos perante os olhos de Deus; ou seja, tornou possível a moderna consciência de nós próprios. Aperceber-nos de que a pessoa vista no espelho é a mesma que experimentamos no interior; e que é a pessoa interior que controla a daquela imagem. A invenção do espelho está assim associada à do moderno ego.
Esta nova visão dupla de nós próprios, do interior e do exterior, é semelhante à que foi possível quando pudemos ver a Terra fotografada da Lua: o nosso planeta deixou de ser apenas o local que vemos e sentimos à nossa volta, para se transformar num corpo comparável a tantos outros objectos celestes.
Por vezes, sobrevalorizamos a imagem do espelho. Muitos problemas da vida moderna resultarão de considerarmos a imagem do espelho mais real que a visão interior.
Discutível tal tese? Naturalmente! É mesmo isso que lhe dá interesse: permite reflectir sobre a matéria de muitos ângulos e de várias formas.
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As flores, "roubadas" do blog "Horta à Porta", são a Veronica persica e a Stellaria media. Não têm culpa nenhuma das teorias do Senhor Tor Nørretranders, mas são bonitas e ficam bem em qualquer lugar.
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