O homem deixou, na esmagadora maioria, de ser
caçador-recolector há muitos anos; com uma extraordinária excepção—e digo
extraordinária porque nesse campo é um alarve—que diz respeito à pesca. Come
batatas, arroz, vacas, galinhas e porcos, mas cria-os. Peixe, só pesca. A
criação em viveiros é tão insignificante, que nem vale a pena falar nela.
Sobretudo porque é complicada, poluente, com algum perigo para a saúde pública
e outras coisas sinistras. Assim, temos os recursos do mar finitos e o apetite
humano infinito.
Globalmente, a humanidade come hoje quatro vezes mais
peixe que comia quando eu tinha onze anos, ou seja, em 1950. No ano passado, o
consumo médio global foi de 17 kg por manjerico, ou manjerica. Assim, aumenta o apetite e diminuem os recursos.
E depois? Depois, "eles" falam, falam, falam, mas não fazem nada: aí está!
A maior parte do fundo do Mediterrâneo é um deserto de
fazer dó. Cerca de 85% dos stocks piscatórios estão a ser explorados em excesso,
sem dó nem piedade. Por exemplo, um em cada três peixes desembarcados pela
frota de pesca espanhola é pago pelo governo. A ideia é garantir trabalho, sem
cuidar de preservar a "fábrica" onde ele é feito—quem vier atrás que
feche a porta!
E já não se trata apenas de pescada, robalo, dourada, sardinha,
ou bacalhau: marcha tudo, incluindo os tubarões. Cerca de 80% (!) da população
de tubarões desapareceu e um terço das espécies estão em vias de extinção.
Perguntar-se-á por alma de quem vamos nós preocupar-nos com os tubarões. Vamos,
mesmo sem ser por alma de alguém, porque são fundamentais para manterem o
ecossistema marinho, ao comerem peixes cuja proliferação excessiva liquida o
plâncton. Olaré!
E curiosidade das curiosidades: estudo recente aponta
para que uma percentagem mínima dos oceanos mundiais vedada às pescas de
diferentes espécies, do tipo de 20 zonas, correspondendo a 4% de todos os oceanos, pode salvar essas
espécies da extinção e manter os stocks mundiais. E então? Então, o homem é
matumbo, pronto—nada feito!
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