Ando a mastigar o tempo—não o tempo que agora nos assa em
lume forte, mas o tempo propriamente dito, esse do latim tempus fugit que os
relojoeiros tanto gostam de escrever nos mostradores. E dizia há dias que um
relógio actual é capaz de se adiantar ou atrasar pequeníssima fracção do segundo
em milhões de anos, o que é mentira, pela singela razão de que uma máquina
dessas dura relativamente pouco. Na melhor das hipóteses, um relógio de césio chega
aos 20 anos, com grande probabilidade de não o conseguir. Um relógio de pulso
decente dura muito mais—tenho um, mecânico, comprado em Timor, com 46 anos e de
aparente boa saúde.
Mas quanto maiores são as exigências de precisão dos
relojoeiros actuais, se podemos chamar assim a uns tantos físicos quânticos que
se interessam pela medição e pelo registo do tempo, mais problemas se lhes
deparam. Por exemplo, esta coisa psicadélica de que o tempo varia com a
velocidade e com a gravidade. Assim,
considerando que a aceleração da gravidade é de 9,80 m/s2 no cume do Everest e
de 9,83 m/s2 ao nível do mar, esses relógios extraordinários, no alto do monte,
adiantam-se 30 microssegundos por ano em relação aos colocados ao nível do mar.
Estou a ver o leitor a pensar que estou maluco por dizer
uma irrelevância destas; mas a maluqueira não é minha é dos referidos
relojoeiros. E o problema é que têm razão. Há actualmente extensa série de
cangalhadas científicas que exigem essa precisão na medição do tempo—desde o
GPS, de que já falei, até aos aceleradores
de partículas, como o LHC de Genebra. Sendo assim, combinamos uma coisa: os
sábios espremem as meninges para medir o tempo correctamente e nós estamos
autorizados a orientar-nos pela altura do Sol. Catita!
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