Do alto da fundação a que amavelmente doou o nome (nós
entrámos com o capital), Mário Soares olha em redor e vê um país no qual
"neste momento não há direitos humanos" e onde a "grande maioria
do povo não tem dinheiro para comer e os seus filhos vão ao caixote do
lixo".
O Dr. Soares podia ter dito que há muitos portugueses a viver
em condições desgraçadas. Se fizesse mesmo questão disso, podia ter
acrescentado que, salvo para efeitos de propaganda política, nem sempre os
infelizes suscitam a compaixão merecida. Porém, com a subtileza própria da
idade—a idade mental de 12 anos, bem entendido—, cada intervenção pública do
homem é uma exibição de demagogia indigna do nome, a que nunca faltam a
"cobiça" dos "mercados", a "submissão" ao "dinheiro",
a guerra do Iraque (ou a misteriosa guerra do Irão, como afirmou nesta semana),
a "senhora Merkel", o "neoliberalismo", Bush, Blair e Aznar
e, dos lado dos bons, os comunistas venezuelanos, talvez Obama e agora o Papa
Francisco. Um embaraço, pois.
O curioso é que nem todos se embaraçam. Durante algum tempo,
cheguei a achar que a atenção dedicada pelos media às alucinações do Dr. Soares
era apenas uma forma perversa de o desacreditar, um estímulo à galhofa
manipulado por forças secretas, ou seja, pelos mercados, a chanceler alemã, Bush
e etc. Hoje não acho. Acho que os media acolhem com genuína excitação o
chorrilho de infantilidades porque, em larga medida, o subscrevem: a
infantilidade é o padrão em vigor. E o caixote do lixo uma metáfora afinal
adequada.
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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