quinta-feira, 15 de maio de 2014

TEMPO PARA AMANHÃ

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Já ouviu, leu, falou muitas vezes sobre tempo. Quando se trata de muito tempo, mesmo muito, o chamado tempo profundo ou longínquo, como o "poço sem fundo", pensa na direcção do passado ou do futuro? Não sei o que respondeu, mas se disse futuro, é uma excepção. Quase a totalidade da humanidade associa o muito tempo ao passado, a coisas como o Big-Bang de há quase 14 mil milhões de anos, à idade da Terra de 4,5 mil milhões e  acontecimentos desse género, dependendo da cultura de cada um. É uma irracionalidade e vou-lhe explicar porquê.
Se desenhar uma linha com 6 metros e considerar que tal linha representa mil milhões de anos, para a existência do homem ser representada nessa linha numa distância de 3 milímetros temos que viver ainda mais meio milhão de anos—a nossa idade actual não é visível a olho nu! E repare que o Sol morrerá daqui a 4,5 mil milhões de anos e nós, provavelmente, algum tempo antes. Isto é, o nosso passado, ao qual associamos o tempo profundo, é uma "caganita" cósmica irrelevante.
Porque é o tempo profundo para nós o tempo passado e não o futuro? Parece fácil responder, mas não é. Constitui uma das matérias com algum relevo e grau de dificuldade significativo na Filosofia moderna. Para os ateus "militantes", naturalmente, a razão está na religião, especialmente na Bíblia. Esta, independentemente do que se pense dela, teve papel importante na formação cultural de quase todas as gerações desde a sua redacção. Na Bíblia, não se lê muita coisa sobre cenários de daqui a milhões de anos na Terra, por exemplo. Encontram-se frequentes mensagens cujo conteúdo podemos resumir na expressão "o fim está próximo" e nunca, ou quase nunca, "o princípio está aí"—e o que sabemos hoje da Cosmologia diz-nos que estamos, de facto, no princípio.
Por outro lado, faz parte da natureza do homem fechar cenários do futuro. Em 1990, por exemplo, um homem com a estatura intelectual de Kelvin dizia a respeito da Física, de que foi um expoente, que já não havia muito mais a descobrir, para além de aperfeiçoar o valor de algumas constantes e outras minudências. Depois veio a descoberta do átomo, das partículas subatómicas, a mecânica quântica, a Teoria da Relatividade de Einstein, agora do bosão de Higgs e por aí fora. A natureza humana foi mais forte que a superioridade intelectual de Kelvin e o físico mandou um bitaite. Acontece aos melhores, como se demonstra.
Finalmente, porque não quero alongar-me (quem começou a ler isto não deve ter chegado aqui), há outro factor importante. O nosso estado evolutivo—que, pretensiosamente, julgamos ser o fim do caminho—ainda não nos deu a capacidade de lidar intelectualmente com o tempo e nem nos apercebemos que muitas das ideias do futuro longínquo serão, também elas, um dia antigas.  Nem admitimos isso com as nossas, actuais, quanto mais com as do futuro. Mas havemos de lá ir.
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