Já
ouviu, leu, falou muitas vezes sobre
tempo. Quando se trata de muito tempo, mesmo muito, o chamado tempo profundo ou
longínquo, como o "poço sem fundo", pensa na direcção do passado ou do
futuro? Não sei o que respondeu, mas se disse futuro, é uma excepção. Quase a totalidade
da humanidade associa o muito tempo ao passado, a coisas como o Big-Bang de há
quase 14 mil milhões de anos, à idade da Terra de 4,5 mil milhões e acontecimentos desse género, dependendo da cultura de cada um. É uma
irracionalidade e vou-lhe explicar porquê.
Porque é o tempo profundo
para nós o tempo passado e não o futuro? Parece fácil responder, mas não é.
Constitui uma das matérias com algum relevo e grau de dificuldade significativo
na Filosofia moderna. Para os ateus "militantes", naturalmente, a
razão está na religião, especialmente na Bíblia. Esta, independentemente do que
se pense dela, teve papel importante na formação cultural de quase todas as
gerações desde a sua redacção. Na Bíblia, não se lê muita coisa sobre cenários
de daqui a milhões de anos na Terra, por exemplo. Encontram-se frequentes
mensagens cujo conteúdo podemos resumir na expressão "o fim está
próximo" e nunca, ou quase nunca, "o princípio está aí"—e o que
sabemos hoje da Cosmologia diz-nos que estamos, de facto, no princípio.
Por outro lado, faz parte da
natureza do homem fechar cenários do futuro. Em 1990, por exemplo, um homem com
a estatura intelectual de Kelvin dizia a respeito da Física, de que foi um
expoente, que já não havia muito mais a descobrir, para além de aperfeiçoar o
valor de algumas constantes e outras minudências. Depois veio a descoberta do
átomo, das partículas subatómicas, a mecânica quântica, a Teoria da
Relatividade de Einstein, agora do bosão de Higgs e por aí fora. A natureza
humana foi mais forte que a superioridade intelectual de Kelvin e o físico mandou
um bitaite. Acontece aos melhores, como se demonstra.
Finalmente, porque não
quero alongar-me (quem começou a ler isto não deve ter chegado aqui), há outro
factor importante. O nosso estado evolutivo—que, pretensiosamente, julgamos ser
o fim do caminho—ainda não nos deu a capacidade de lidar intelectualmente com o
tempo e nem nos apercebemos que muitas das ideias do futuro longínquo serão,
também elas, um dia antigas. Nem
admitimos isso com as nossas, actuais, quanto mais com as do futuro. Mas havemos de lá ir.
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