O PORTUGUÊS ACTUAL É DOLICOCÉFALO, ortocéfalo (quase camecéfalo), metriocéfalo (quase acrocéfalo), levemente eurimetópico, de buraco occipital mesossema (quase megassema), leptoprósopo, cameconco ou mesoconco, leptorrínico, fenozígico (quase criptozígico), mesostafilino (quase leptostafilino), ortognata e megalocéfalo. - A. A. M. Correia, "Os Povos Primitivos da Lusitânia", 1924, p. 327
Portugal está entregue a gente medíocre e, no mínimo, intelectualmente pouco séria. O que se defendia ontem com convicção repetida até à náusea é rejeitado hoje sem vergonha, metendo na gaveta os princípios para sobreviver politicamente. E tudo isto com o mesmo descaramento dos que vivem de expedientes, seja a passar cheques sem provisão, seja a vender contrafacção. O exemplo está aí no Programa de Estabilidade e Crescimento, onde de uma penada se atira ao lixo um ror de promessas com que se ganharam eleições e se dá o dito por não dito. Cito Luis Filipe da "Visão": Ouve-se da boca do primeiro-ministro, nos impiedosos arquivos televisivos esta semana postos no ar: "O investimento público é a melhor forma de animar a economia, criar emprego e produzir riqueza." Ora, no primeiro embate, o Governo cancelou os projectos de cinco auto-estradas. No segundo, adia por dois anos as linhas de TGV Lisboa-Porto e Porto-Vigo. Aguarda-se o terceiro. O mais extraordinário é que os portugueses foram avisados e não ouviram; e aparentemente continuam a não ouvir, como diz João Pereira Coutinho: [...] O discurso de Ferreira Leite (no Congresso do PSD), pelo contrário, foi simultaneamente triunfal e trágico. Triunfal, porque foi possível ver, talvez pela última vez, uma mulher sem carisma mediático a repetir o que hoje é consensual: o Estado caminha para a falência; os partidos estão em descrédito; o regime está atolhado em falsidades. Mas quem, há cinco meses, esteve interessado em ouvir este sermão? O lado trágico está aqui: as eleições não se ganham com verdades; ganham-se com mentiras porque os portugueses preferem-nas. E se existiu erro no consulado de Ferreira Leite foi o de sobrevalorizar a maturidade dos portugueses; a crença ingénua de que era possível falar para adultos. Não é. Para regressar ao poder, não basta ao PSD eleger um líder e esperar que o eng. Sócrates caia da cadeira. É preciso nivelar o discurso com a idade mental do eleitorado. João Pereira Coutinho acha que é um problema de idade mental, mas não é, infelizmente. Parece mais um caso, ou o somatório de alguns milhões de casos, de estupidez.
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