terça-feira, 5 de abril de 2011

O HISTORIADOR E SEU ESTILO

.
Do púlpito de uma das igrejas de Braga, da antiga metrópole, onde ainda devem estar bem vivas as memórias do venerável Caetano Brandão, do ilustre prelado que pretendia reformar o breviário e missal bracarenses por causa das suas intoleráveis patranhas e falsidades (frase do grande arcebispo), o meu nome foi lançado ás multidões ladeado dos epítetos de herege, de ímpio e de outros semelhantes. Um egresso fanático e ignorante (como o são centenares de sacerdotes no meio do nosso clero, que não recebe há muitos anos nem educação moral nem educação literária) cobriu-me de injúrias diante de um concurso numeroso, segundo me informaram, porque no meu livro usara do direito de historiador, qualificando devidamente essas inteligências vastas e enérgicas, mas corruptas, violentas e cobiçosas que cingiram a tiara papal, e que se chamaram Gregório, Inocêncio ou Honório. A princípio acreditei que isto não passara de um impulso de fanatismo individual; mas em breve me desenganei de que o facto pertencia a um sistema organizado de agressão. A imprensa política noticiou procedimentos análogos para comigo em outros lugares do arcebispado.
Alexandre Herculano in “Opúsculos” (Tomo III)
.

Sem comentários:

Enviar um comentário