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O tempo de crise passa um dia. A crise do tempo não passa.
Passar implica a noção de movimento e movimento é relação
com uma ou várias referências. Por exemplo, a seta que vai no ar disparada pela
besta com e aberto (é) ou é fechado (ê)— tanto faz—movimenta-se em relação aos
objectos circundantes, com velocidade de 5 metros por segundo. Perfeito!
Mas o tempo desloca-se em relação a quê? Acho que,
objectivamente, em relação a nada—está parado! E com que velocidade? A
velocidade é de um segundo por segundo? Estúpido!
É claro que o tempo subjectivo é outra coisa. Por exemplo
5 minutos a ouvir a Diana Krall a cantar e tocar piano passam depressa; mas 5
minutos a ouvir Sua Excelência, o Presidente da nossa amada República, parece não
terem fim, excepto quando emprega inovações lexicais, para usar a expressão de
Alberto Gonçalves.
Portanto, parece que, objectivamente, o tempo não passa—nós
é que passamos por ele: ganda espiga.
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