Há quem considere a pergunta incoerente, ilógica, impossível
de ser respondida pelas limitações intelectuais que são as nossas, blá, blá,
blá; e há quem tenha fé—no sentido lato—de que um dia se chegará lá. Em boa
verdade, não se afigura fácil tal empresa: já se foi até ao Big-Bang, feito
notável, mas o Grande Bang ficou por explicar e, eventualmente, trouxe mais dúvidas
que respostas à pergunta.
Há optimistas e pessimistas—William James, por exemplo, escreveu que não há pontes entre o nada e "todas as coisas"; e Stephen Hawking tem "fé" que um dia
a ciência esclarece tudo; caso para perguntar se não irá a ciência dar mais um
passo em direcção às origens, até esbarrar noutro Bang ou Bing, ou Ping qualquer sem explicação.
Uma coisa não pode perder-se de vista: o universo já foi
feito de água, fogo, terra e ar e, com os filósofos pré-socráticos de Tales,
passou a ser feito de átomos compactos e indivisíveis, e é hoje feito de átomos
não compactos nem indivisíveis, porque se dividem em partículas e estas poderão
ser feitas de filamentos vibráteis, ou cordas, de energia, mas já estamos nos
leptões, quarks, bosões e por aí fora.
Em resumo, na era pré-socrática não havia pontes—para usar
a expressão de William James—entre a matéria macroscópica e a infinitamente
pequena e hoje há pontes maiores que a Vasco da Gama. Hawking pode ter razão,
mas numa coisa deve estar enganado: tais pontes nunca responderão à última
pergunta, qual é a da existência de Deus. Nunca se chegará lá pela ciência,
digo eu, pensador de S. Domingos de Benfica.
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