Os jornais estão uma lástima—é só desgraça, miséria,
desemprego, instabilidade política, rebéubéu... Não apetece ler tal prosa; nem
a secção humorística!
Mas hoje o "Correio da Manhã" esmerou-se e
noticia a páginas tantas:
[...] João Vale e Azevedo, que se encontra no estabelecimento prisional da Carregueira a cumprir mais cinco anos e meio de prisão, ingressou pela vida religiosa e foi nomeado ajudante do padre. Além disso, assume pela primeira vez os seus crimes e mostra-se arrependido. [...]
Vale e Azevedo é uma figura nacional incontornável. Em
Londres, onde se encontrava fugido à Justiça Portuguesa, a viver com qualidade
e a aguardar a extradição, para ocupar as horas livres, ainda conseguiu vender
um banco a um indígena britânico, antes de ser reencaminhado para a cadeia. Na
Prisão da Carregueira não tem disponibilidade para negócio de tanto fôlego, mas
faz o que pode, adaptando-se ao meio. Associou-se ao capelão e, não
tarda, está a vender camarotes no Céu ao Isaltino, ao Rita e ao Cruz, coisa que
não está mal pensada e até ajuda a aliviar as penas dos reclusos. Uma coisa,
contudo, o capelão deve fazer: profilacticamente, reforçar os fechos das caixas das esmolas.
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