Anselmo Borges não pára de me surpreender. Hoje, no DN,
escreve sobre os papas agora canonizados. Sobre João XXIII, estou completamente
de acordo com o que diz, embora a minha opinião nessa matéria valha zero, o que
não significa não ter opinião.
Sobre João Paulo II, interessa o seguinte, acho eu:
[...] ... viveu imensas
contradições. Paladino da liberdade, cerceou-a dentro da Igreja. Pediu perdão
pelas culpas da Igreja ao longo da História ao mesmo tempo que perseguiu mais
de 140 teólogos. Defendeu os direitos humanos para o mundo ao mesmo tempo que
reprimiu quem dissentia das suas concepções doutrinais e teológicas. Pôs travão
a horizontes abertos pelo Vaticano II, que queria que fosse lido através do
Vaticano I. Foi incapaz de rever algumas normas de ética sexual, não permitindo
o preservativo, apesar da sida. Opôs-se tenazmente a uma reflexão sobre a lei
do celibato obrigatório. Travou a teologia da libertação, humilhando
publicamente o poeta E. Cardenal. Quis pôr termo definitivo até à possibilidade
de debate sobre a ordenação das mulheres.
Se pessoalmente
era santo? Não duvido. Mas deixou uma herança dramática por causa da Cúria
entregue a si mesma e do modo como terá lidado com a pedofilia do clero e a
figura perversa do fundador dos Legionários de Cristo. Por isso, muitos,
incluindo o cardeal Carlo Martini, questionaram a oportunidade da canonização.
[...]
Tal e qual. Sobretudo porque foi enormemente intolerante
para alguns teólogos, especialmente os
chamados "da libertação"; porque deixou a Cúria à deriva, o que deu
no que deu; porque não se incomodou com a pedofilia, um escândalo sem
classificação; e porque revelou enorme insensibilidade em relação ao drama da
SIDA em África, com pruridos "beatos" em relação ao preservativo.
Em boa verdade, penso que a prática das canonizações
já devia ter acabado há muito. Posso estar enganado, mas tenho o pressentimento
que o actual Papa pensará coisa parecida.
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