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Com efeito, graças às imensas vantagens e lucros tirados pelos portugueses das suas numerosas e gloriosas conquistas no Oriente; graças ao comércio mantido com tais regiões, Portugal conseguiu, no período de alguns anos, atingir uma riqueza e um bem estar que excediam, em muito, tudo aquilo que se havia visto até então.
O cronista D. Gois, testemunha ocular, conta ter visto frequentemente no mercado indiano de Lisboa apresentarem-se negociantes com sacos de moeda de ouro e prata, para pagar as mercadorias recebidas, e os empregados mandarem-nos voltar outra vez, porque não tinham tempo de contar o dinheiro, visto como as sobras cobradas todos os dias eram demasiado consideráveis.
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Não decorreu muito tempo sem ver manifestarem-se, em meio daquela situação florescente, sintomas de mudança e de decadência. Na verdade, aquela opulência, aquela abundância que se deveria ter empregado, com sensata economia, em legítimas, exactas precisões, foram consagradas a prazeres refinados e a cobiças que, insaciáveis de sua natureza, acarretaram despesas exageradas e excessos nos vestuários, que se recebiam já feitos dos povos estrangeiros. Deram margem à pompa e ao luxo da
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O corolário natural e rápido desta afluência extraordinária de metais preciosos e de somas amoedadas foi um alevante inaudito dos preços dos produtos, naturais e manufacturados. Deviam eles subir a tanto mais alto quanto a actividade industrial de Portugal se conservava atrás das necessidades, e a paixão das aventuras marítimas, a estonteante perspectiva de fazer fortuna no mar, ajuntando facilmente tesouros nas regiões longínquas da Índia, mais braços lhe arrebatavam. [...]
[...] Prestes a mor parte dos tesouros da Índia outra coisa não fez do que esta: passar pela mão dos portugueses, para comprar à indústria do estrangeiro as mercancias e produtos delicados que imperiosamente reclamavam a molícia e luxo lusitano [...]
Henrique Schæfer
"História de Portugal"
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