domingo, 17 de fevereiro de 2019

RECORDAR EÇA

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[…] Em 1853, um eclesiástico lustre, D. Gaspar de Lorena, bispo de Corazim (que é em Galileia), velo passar o São João a Évora, a casa do Cónego Pita, onde o papá muitas vezes à noite costumava ir tocar violão. Por cortesia com os dous sacerdotes, o papá publicou no Farol uma crónica laboriosamente respigada no Pecúlio de Pregadores, felicitando Évora “pela dita de abrigar em seus muros o insigne prelado D. Gaspar, lume fulgente da Igreja, e preclaríssima torre de santidade”. O bispo de Corazim recortou este pedaço do Farol, para o meter entre as folhas do seu breviário; e tudo no papá lhe começou a agradar, até o asseio da sua roupa branca, até a graça chorosa com que de cantava, acompanhando-se no violão, a xácara do Conde Ordonho. Mas quando soube que este Rufino da Assunção, tão moreno e simpático, era o afilhado carnal do seu velho Rufino da Conceição, camarada de estudos no bom seminário de São José e nas veredas teológicas da Universidade, a sua afeição pelo papá tomou-se extremosa. Antes de partir de Évora, deu-lhe um relógio de prata; e, por influência dele, o papá, depois de arrastar alguns meses a sua madraçaria pela alfândega do Porto, como aspirante, foi nomeado, escandalosamente, director da alfândega de Viana. […]
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Eça de Queirós in "A Relíquia"
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