quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A CARNIFICINA DA NATUREZA

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Visto à distância, o mundo tem o aspecto de placidez majestática. Mas por baixo das folhagens, e escondida dos olhos distantes, ocorre incessante carnificina. Onde haja vida animal, os predadores estão à caça, capturando, matando e devorando as presas. O sofrimento da morte violenta e agonizante existe continuamente por todo o lado. Esta carnificina oculta sustentava o pessimismo filosófico de Schopenhauer ao contestar a afirmação de que o prazer no mundo suplanta a dor: compare-se o estado do animal que devora outro com o do animal a ser devorado, dizia.
O trabalho dos teólogos não terminará quando puderem explicar o que Deus faz ao homem, porque devem também fazê-lo em relação aos animais. O sofrimento dos animais é um desafio particularmente complicado por não ser abordável do ponto de vista da explicação habitual para o sofrimento humano. Os animais não têm livre arbítrio e não escolhem o demónio. Não têm alma e não pode esperar-se que venham a ser compensados do sofrimento na vida depois da morte. Nem são engrandecidos ou enobrecidos pelo sofrimento nas mandíbulas do predador.
Se estivesse na posição de delinear o mundo, teria tentado fazer as coisas de modo a que os indivíduos fossem capazes de sobreviver sem atormentar e matar outros indivíduos. É uma ideia que vem de longe; por exemplo, nas palavras do profeta Isaías quando escrevia no Século VIII AC: Usarão as espadas como arados e as lanças como anzóis: nação nenhuma levantará espada contra nação. O lobo viverá com o cordeiro e o leopardo deitar-se-á com a criança: e a vitela, o leão e o cevado também.

Estas são as ideias introdutórias do artigo de opinião publicado ontem no New York Times, da autoria de Jeff McMahan, professor de Filosofia da Universidade de Rutgers e colaborador do Centro dos Valores Humanos da Universidade de Pinceton.
Daqui parte McMahan para a hipótese de o homem - que já se mostrou capaz de mudar a biosfera, a maior parte das vezes para o mau caminho -, exercer essa competência no sentido de condicionar a vida dos predadores carnívoros e amortecer o impacto do agressivo comportamento biológico na natureza. Discute as implicações biológicas e filosóficas de tal hipótese – que não pode chamar-se outra coisa – e aborda a posição da cultura tradicional, ao contestar tal posição em nome do mundo como é ser a vontade de Deus. A verdade é que isso não está escrito em parte nenhuma: ao longo da evolução, apareceram e desapareceram milhões de espécies, em muitos casos por interacção de seres vivos seus contemporâneos. A lei natural existe e funciona inexoravelmente sempre da mesma maneira, quer tenha sido feita por um ser inteligente, quer tenha outra origem. A intervenção do homem no mundo faz–se de acordo com essa lei, que tem de ser usada de forma justa e ética – é o que se espera.
Devemos ser cautos com a inovação das ideias, mas o que mais prejudica a evolução do homem é o imobilismo, e a recusa de as discutir.
Para ler o artigo na íntegra, em inglês corrente, clique aqui.
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