sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A COREIA EM SÍNTESE SEGUNDO EÇA

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A nordeste da China, ou antes da Manchúria chinesa, entre o mar do Japão e o mar Amarelo, há uma tristonha península de costas escarpadas, que a si própria se enfeitou, desde o ano de 1392, quando começou a reinar a dinastia que ainda hoje reina (ou que ainda reinava no mês, passado) com o nome risonho, luminoso e fresco de Reino da Serenidade Matutina. Os Japoneses, seus vizinhos, chamam a esta terra Ko Rai; nós, mais comodamente, Coreia. É um país tão silencioso, tão recluso, tão separado de toda a humanidade, mesmo dos seus parentes asiáticos, que no Japão e na China o designam pela alcunha de País Ermitão.
O que dele, na Europa, nós melhor conhecemos, por estampas, é a figura dos seus habitantes, homens esguios e graves, de longos bigodes pendentes, que usam o mais extraordinário chapéu de que reza a história das modas, o formidável chapéu coreense, muito alto, muito pontiagudo e de abas tão vastas que sob ele um patriarca pode abrigar toda a sua descendência, os seus móveis e os seus gados. Estes homens falam um chinês mascavado de tártaro, vivem de arroz e habitam casas rudimentares, feitas de bambu, adobe e papel.
Há aí, como na China, uma classe superior de letrados, mas enxertada sobre a antiga casta nobre de senhores feudais: e são estes senhores, educados sumariamente pelos livros chineses, que, depois de passados seus exames públicos e obtidos seus diplomas escolares, exercem os empregos, comandam as forças, governam as províncias, escrevem as gramáticas, administram a justiça e formam a corte. Todos os outros serviços são feitos por escravos. As classes letradas professam como moral, se não como religião, um confucionismo todo enferrujado de enguiços e magia. O povo nos campos adora o Sol e as estrelas. Toda esta gente bebe cozimento de arroz. O chá é um luxo da família real. A arte mais estimada é a música, que faz parte do ensino primário, como na Grécia de Péricles. As suas indústrias, se existem, são desconhecidas. Quando a Europa lhe manda missionários, a Coreia mata os missionários. Por capital têm a velha cidade de Seul, que todos os coreenses consideram como sendo, sobre a Terra, o centro supremo do fausto, dos prazeres, das belas maneiras, das existências ditosas. [...]

In “Cartas Familiares de Paris”

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