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...Em tempos, transcrevi aqui um excerto de prosa de José António Saraiva que rezava assim:
Ricardo Salgado tem uma pose institucional por excelência.
Sempre deu poucas entrevistas – e, quando as dá, não diz praticamente nada.
Usa a estratégia do silêncio, que é muito eficaz, pois nunca se sabe bem o que ele pensa (e até o que ele sabe mas não quer dizer).
Salgado sempre se resguardou.
Mesmo depois da queda do Grupo Espírito Santo, nunca abandonou a sua atitude pública de alguma sobranceria e enfado em relação aos outros mortais – e continuou a falar pouco e a dizer ainda menos.
O que se sabe acerca dele é através de outros.
Lembrei-me disto ao ler hoje, no "Jornal de Negócios" que a pensão de Ricardo Salgado e de outros antigos administradores do BES não pode ser superior a 11.500 euros brutos por mês. É este o entendimento do fundo de pensões do Novo Banco que se traduz num corte de mais de sete vezes face aos 90 mil euros ilíquidos que o antigo banqueiro recebia. Uma interpretação que ainda tem de ser confirmada pelos tribunais.
Em resumo, e isto é que interessa, Salgado tem neste momento uma pensão mensal de 90 mil euros ilíquidos, depois de ser responsável — ou irresponsável? — por um Banco que acabou como se viu.
Não se trata de pontos de vista políticos, económicos, partidários, sequer éticos ou morais. É apenas uma questão de senso comum que se resume assim: um fulano pegou numa instituição e arruinou-a; e, em consequência disso, a gestão da instituição foi-lhe retirada, atribuindo-lhe esta uma pensão vitalícia de 90 mil euros ilíquidos mensais.
Acordem-me, por favor, se sou eu que estou a sonhar.
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