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[…] A parte mais difícil da carreira de gestor é aceder à carreira de gestor. Assim que um gestor se torna gestor, é quase impossível falhar. Há gestores que vão sendo
responsáveis por maus resultados e falências em várias empresas, sucessivamente, até serem nomeados para um cargo de supervisor de más práticas de gestão, mesmo antes de se reformarem. Talvez seja melhor usar uma metáfora, para mais fácil esclarecimento de todos os leigos nas complexidades do mundo empresarial: os gestores da TAP são o equivalente corporativo daqueles miúdos apalermados que têm um padrinho rico. O miúdo chumba o ano mas o padrinho premeia-o na mesma, porque tem pena dele. Neste caso, o padrinho rico somos nós. Após uma atribulada mudança no regime de propriedade da TAP, que incluiu uma privatização e uma renacionalização, a empresa acabou por ficar com o estatuto de miúdo apalermado cujo padrinho rico é o Estado. Funciona assim: se o miúdo, por um acaso improvável, for bem-sucedido nos negócios, fica com o dinheiro; se não for, o padrinho rico ampara-lhe a queda e dá-lhe um bónus. O bónus acaba por ser o Rendimento Social de Inserção das pessoas que não são pobres. É, na verdade, um Rendimento de Inserção no Social, porque imagino que o modesto salário de um gestor não chegue para comprar o fraque requerido em certas festas. [...]
Ricardo Araújo Pereira in "Visão"
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sexta-feira, 21 de junho de 2019
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