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Para quem não tenha habitado o planeta durante o último século, o caso da Autoeuropa é uma pertinente aula prática sobre os propósitos, os métodos e as consequências do socialismo “científico”. Há uma empresa multinacional relevante para as dimensões da economia nacional, viável há muitos anos e com um apreciável currículo de razoabilidade nas relações entre empregadores e empregados. Há uma proposta, ou decisão, para alargar o expediente aos sábados, com troca de folgas e aumento desproporcionado (no bom sentido) dos salários. Há um bando de preguiçosos daninhos, de facto serventuários do PCP, que toma aquilo de assalto e promove uma greve inédita. Há uma enxurrada de referências cínicas à “luta” e aos “direitos”, aos “piquetes” e à “paralisação”. Há a suspeita de que, não tarda, os donos da coisa cansam-se desta Venezuela à beira-Sado e vão produzir carrinhos em paragens menos folclóricas. Há a certeza de que, logo que os trabalhadores fiquem sem trabalho nem dinheiro (mas com sete dias livres por semana), a culpa será do capitalismo selvagem. Há esperança de que, sobre os escombros e a miséria, o PCP decrete a vitória das forças revolucionárias. Não há esperança de que isto sirva de lição..
Alberto Gonçalves in "Observador"
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