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O site SAPO 24 publica hoje uma extensa entrevista com Jaime Nogueira Pinto. Vale a pena ler. A seguir, transcrevem-se algumas passagens...
[...] As instituições judiciais, as magistraturas, para se defenderem um pouco, perceberam que tinham de criar uma certa cumplicidade. Nesse aspecto o sistema está viciado. Apesar de tudo, as pessoas são racionais, são conscientes, e formulam juízos. O due process of law fez-se para dar garantias às pessoas, mas não para criar um sistema tão perverso que seja possível ficar eternamente sem uma decisão. Tudo isto tem de ter uma certa medida. [...]
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[...] O século XIX foi, de facto, o século da liberdade. A preocupação principal das sociedades do século XIX é instaurar a liberdade, sobretudo a liberdade religiosa, a liberdade de pensamento, a liberdade política, a liberdade económica. O século XX passa para a ideia da igualdade. E penso que o século XXI é o século da identidade. Até para se protegerem, as comunidades voltam muito à ideia da identidade, pelo receio da amálgama. E estamos a assistir a isso nos grandes estados; nos Estados Unidos, na China, na Rússia. São hoje Estados com governos muito identitários, para quem a a identidade é uma preocupação fundamental. E não é só Trump, os chineses são fortemente nacionalistas. [...]
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[...] A China é fortemente identitária, mas aposta na globalização. Como os Estados Unidos apostaram no passado. E Portugal é um caso curioso, há uma componente económica fortíssima na questão da expansão e dos Descobrimentos. Na Idade Média, a economia baseava-se na agricultura, que num país como Portugal era paupérrima. Quando passamos os Pirenéus temos uma gigantesca planície europeia, até à Rússia, de terras baixas, fertilíssimas e com rios navegáveis. Aqui terras boas só a Lezíria do Tejo, Sado e baixo Mondego, o resto é paus e pedras, uma agricultura é dificílima. Lembro-me de, na minha infância e adolescência, ler os jornais e as grandes questões de homicídios em Portugal serem ou os crimes passionais ou as disputas de terras e águas. Ou seja, este país, que nos finais do século XIV consegue defender-se de Castela, escapar da hegemonia castelhana, para resolver o seu problema de recursos, que não tem, tem de sair para o mar Atlântico. E globaliza, somos pioneiros nisso, numa expansão política, militar e comercial. [...]
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[...] Aliás, é curioso, no "Bárbaros e Iluminados" transcrevo uma carta do Engels para Marx – as pessoas acreditam sempre que a História é feita de blocos de bons e maus – escrita num período em que a Alemanha faz uma tentativa de despenalizar a homossexualidade. E Engels diz mais ou menos: "Bom, qualquer dia, pessoas como nós, que têm o vício infantil de ainda gostar de mulheres, vão ter a vida desgraçada e ainda acabam acusadas de ser heteros. Felizmente já não vamos viver nesses tempos". [...]
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[...] Contava-se de um banqueiro que, vaidoso, mostrava no seu gabinete os quadros da família pendurados na parede: "Esta é a prima baronesa; Este é o bisavô marquês; Este é o avô conde..." E o convidado interrompe: "Por mais um lance no leilão o seu avozinho era meu!"... [...]
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[...] Sou suspeito, porque penso que não há direita nenhuma em Portugal. Mas mesmo as pessoas da direita, em termos de opinião, as pessoas que votam à direita, preferem dizer que são do centro, ou vão do centro para a direita. Por exemplo, o novo líder do PSD teve logo a preocupação de dizer que era do centro-esquerda. Do centro-esquerda é o António Costa e o Partido Socialista. [...]
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