É possível que haja uma crise na direita portuguesa nos próximos anos. Foi mais ou menos isto que Marcelo Rebelo de Sousa disse faz poucos dias, colocando-se a si na posição de contrapeso desta possibilidade. Ora vamos lá por partes: em primeiro lugar, com o devido respeito, não é preciso ser uma mente muito iluminada para constatar esta realidade. De resto, basta pararmos para olhar com atenção para a direita portuguesa, pelo menos a do dito arco da governação, e a verdade é que facilmente se constata que não há ninguém que represente uma qualquer novidade ou uma garantia de futuro. Ou, se há, até ao momento, ainda não avançou para a frente de batalha.No entanto e, voltando a el-rei, não pode Marcelo Rebelo de Sousa, no exercício das suas funções, voltar a vestir a capa que durante anos teve na TVI como comentador televisivo. Se intelectualmente lhe fica mal, presidencialmente é desajustado.
Por outro lado, é curioso que, em grande medida, el-rei considere haver ou ir haver uma crise, crise essa para a qual tem inequivocamente contribuído. Onde anda el-rei Marcelo quando a esquerda pode e deve muitas vezes ser criticada? Onde anda el-rei Marcelo quando, podendo ter um papel mais controlador perante os diplomas legais que lhe são apresentados, parece assinar tudo de cruz, sem qualquer laivo de criticismo? Onde andou el-rei no exigir de explicações claras ao Executivo sobre o caso de Tancos? Onde andava el-rei no exigir de explicações igualmente esclarecedoras sobre tudo o que se tem passado em Pedrógão? Não sei. Julgo mesmo que ninguém sabe. Neste sentido, talvez devesse el-rei, nesta matéria, preocupar-se menos com o equilíbrio dos outros e preocupar-se mais com o seu. Seria mais útil ao país.
Para terminar, sou cada vez mais levado a pensar que a razão que leva el-rei a querer antever a crise dos outros seja unicamente a de se defender da sua. Não estou com isto a dizer que Marcelo Rebelo de Sousa está com a popularidade em baixa. Qual bailarina de ballet, está mais que habituado a andar sempre em pontas. Não estou igualmente a dizer que não vença as próximas eleições presidenciais. Vai vencer. Vai vencer bem, e contra quem quer que seja. No entanto, é óbvio que a direita que ele tanto critica é a mesma que diz estar desapontada com ele, e nalguns casos legitimamente.
El-rei está claramente a piscar o olho ao eleitorado da geringonça, em particular ao eleitorado socialista. Disso, já se fala, e que ninguém se admire. Nas próximas presidenciais é bem possível que o Partido Socialista abdique do seu próprio candidato e apoie Marcelo. Cá estaremos para ver.
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