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Na longa caminhada da evolução que levou ao aparecimento do Homo sapiens, momento houve em que um antepassado tomou consciência da possibilidade de ocorrência de fenómenos adversos, nomeadamente doenças, guerras, acidentes, hostilidade dos coabitantes e, sobretudo, da inevitabilidade da morte. Este foi o tributo pago pelo H. sapiens ao ser-lhe dada a capacidade intelectual que tem. O homem é o único animal que sabe ter a morte como destino final da vida na Terra, e é também o único com a angústia do imprevisto do futuro próximo e longínquo. Naturalmente, não aconteceu isto de supetão, mas instalou-se de forma gradual, em gerações sucessivas dos nossos avós. Curioso notar ser a ansiedade fruto da capacidade de seres relativamente muito diferenciados do ponto de vista intelectual. Não sei se os animais têm o que chamamos de ansiedade mas, em caso afirmativo, será apenas um sentimento quase contemporâneo do fenómeno que a desperta; por exemplo o momento em que a presa é perseguida e atacada pelo predador. Ao contrário, a espécie humana pode senti-la, e sente-a, em relação a possibilidades que muitas vezes nem sequer acontecem, e anos, até décadas, antes de ocorrerem, se ocorrerem.
É tentador especular-se ter sido esta característica mental que despertou o espírito místico da humanidade. O homem sente necessidade da existência do ser divino, com capacidade de regular o mundo, protegendo-o das ameaças que receia. E também de lhe dar vida para além da morte, inconformado que está com a inevitabilidade do fim vital.
Parece indiscutível que as formas primitivas de religião tinham, e têm, a origem e o propósito mencionados. Os ritos pré-bélicos, persistindo de forma estilizada na actualidade na persignação do jogador de futebol antes do jogo; ou a forma de sepultar no antigo Egipto, são exemplos do que se diz. De que forma isso se transpõe, se se transpõe, para as religiões monoteístas modernas não sei. Matéria para filósofo e teólogo.
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