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A respeito da comunicação de Mubarak, falava eu ontem da falta de noção da realidade de governantes isolados em ambientes esterilizados, sem “contaminação” por essa espécie de praga chamada povão. Pessoas que, numa situação como a que o Egipto atravessa há semanas, pensam resolver o problema – problema delas, acrescente-se – com um discurso manhoso, que se estava mesmo a ver ia incendiar ainda mais os ânimos populares. O preocupante nisto não é a falta de objectividade neste momento: é o que revela de falta da tal noção da realidade numa pessoa que governa um país com mais de 80 milhões de almas há 30 anos. Isto é, uma parte significativa da humanidade vive há 30 anos sob a tutela de um janota “residente” noutro planeta!
Dirão os leitores que é uma situação singular esta; mas não é, digo eu. A História está cheia de casos paralelos, desde Fulgencio Baptista a Fidel Castro, de Ceausescu a Ben Ali, de Salazar a Franco. A permanência no poder devia ser encarada como situação esporádica e transitória em todas as circunstâncias. Porque há limitações nalgumas presidências e em cargos autárquicos, por exemplo, e o mesmo não acontece sistematicamente em todos os lugares políticos?
A limitação temporal de exercício de cargos políticos devia ser norma de ouro do que se chama democracia. Caso contrário, os abusos têm consequências trágicas, como se constata.
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