.
.
Manuel Maria Carrilho tem criticado o governo socialista e o seu líder, especialmente depois de ser substituído como embaixador na UNESCO. Talvez esteja ressabiado porque gostava de ser embaixador. É possível, porque era mais calado antes. Mas isso não tira razão ao que diz agora e tanto incomoda os fiéis seguidores do “vence-eleições” Sócrates, que o desafiam a candidatar-se a Secretário-Geral do partido. Hoje responde-lhes no “Diário de Notícias” e diz:
A crise é por isso, antes do mais, de ideias e do seu debate. Dos modos de deliberar, de participar e de decidir. Andar agora a "desafiar os críticos a avançar" para a liderança do partido é não compreender que cobiçar o poder e desejar o debate são coisas distintas. É recusar aos militantes o direito a pensarem por si próprios e a exprimirem-se livremente, a não ser que aceitem disputar o poder. O "desafio" traduz uma visão da liberdade e do pluralismo que é inaceitavelmente condicional - "só podes ser livre dentro da minha gaiola" -, própria de quem vê no debate livre e aberto de ideias uma ameaça, e não uma porta para as soluções de que o País precisa.
Sem ideias e sem debate iremos sentir até ao fim os efeitos desastrosos desse cocktail fatal de que já falava Maquiavel - a mistura da obsessão do poder com os efeitos da ignorância. E depois de um tal fim, a ressaca será à sua medida. Os militantes livres do Partido Socialista deviam começar a pensar nisto.
Bem dito e escrito! Não gosto do homem, mas reconheço-lhe estatura mental nos antípodas do pateta alegre que é Sócrates.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário