quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

REIS SEM COROA

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Ninguém percebeu muito bem o que Mubarak disse; ou, melhor, o que Mubarak não disse. Falou em transferir poder para o Vice-Presidente, mas não “o poder”, ou “todo o poder”. Qual é o papel agora dele e de Suleiman? Nobody knows!

O curioso nisto tudo é o senhor estar convencido que cala os manifestantes com manobras ingénuas deste tipo. É a completa falta de noção do que se passa de facto com o povão. Após 30 anos de presidência, fechado em palácios e
rodeado por moleques a dizerem o que se gosta de ouvir, fica-se assim. Ficam todos assim. Ficou Franco, ficou Salazar, ficou Ceausescu, e até Sócrates já está, apenas com cinco anos. Muita conversa, muita análise política, muitos papéis, muita subserviência à volta, muitos secretários, muito isolamento dão cabo do senso comum. Esses tipos precisavam de volta e meia fazerem uma viagem sem apoio, comprar o bilhete, fazerem eles a mala, apanhar o transporte público para a estação, tomar conta das cuecas sujas, ir comer ao snack-bar, pagar a conta do hotel, ou melhor ainda da pensão, comprar o jornal no quiosque, e esperar num aeroporto 24 horas por um voo cancelado por greve do pessoal de terra ou do ar. E chegar a casa e encontrar a sanita entupida, a deitar trampa por fora, e ter de arranjar um canalizador às três da manhã, ou dormir com uma mola no nariz. Assim mesmo.
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