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Estamos actualmente mais desligados das estrelas que nunca. Mesmo os utilizadores de aparelhagem de navegação abandonaram as estrelas como referência para utilizar constelações de satélites artificiais sincronizados com relógios atómicos na Terra. Contudo, a preocupação decorrente da eventualidade de guerras, deixa o homem inquieto. A Academia Naval dos Estados Unidos, por exemplo, retomou o ensino da navegação celestial, quase como no tempo do Infante D. Henrique. É uma bela e clara demonstração da ansiedade de conhecer a posição de cada um no mundo e de perder o tino.O homem sempre procurou referências para se orientar — os montes, os rios, os lagos, as florestas, o nascente, o ocaso e por aí fora. Mas a maior parte desses marcos funcionavam apenas na curta distância, regionalmente, impedindo-o de se deslocar orientado à escala planetária. Recorde-se que, nascido na África Oriental o género Homo se espalhou por quase todo o globo.
A descoberta das características estáticas e evolutivas das estrelas e constelações no cenário cósmico permitiu-lhe viajar e explorar o planeta. Por isso, manteve uma relação atenta, assídua e apaixonada com a Astronomia. Nomes como Ptolomeu, Galileu e Copérnico, para citar apenas três, ficaram gravados, não na História da Astronomia, mas na História tout court.
Vale a pena recordar isto porque o homem moderno está totalmente desligado — por ignorância — do Cosmos. Tem no bolso das calças um pequeno aparelho que lhe permite, em segundos, entrar em contacto com a prima que vive nos Estados Unidos e está nesse preciso momento a empanturrar-se com um hamburger no McDonald's, consultar o mapa do local da cidade onde está e encontrar a rua que procura, saber se chove ou faz sol em Alguidares de Baixo e por quantos ganhou o Benfica nessa tarde — um ignorante que sabe tudo e não percebe nada... de nada. Tal e qual.
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