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Vivemos num jardim onde faz capa num jornal de referência a entrevista com uma Secretária de Estado em que esta informa o público leitor sobre a sua qualidade de homossexual. É uma forma subconsciente de quem não se sente bem na pele que veste se aliviar e, ao mesmo tempo, exibicionismo do politicamente correcto, uma das chagas da sociedade actual. Quase tudo que é objecto do cuidado dos zelotas do politicamente correcto sai mais estigmatizado com esse cuidado do que era antes.
Vem isto a propósito do artigo de Rui Ramos, publicado hoje no "Observador", com o título "A lógica civilizacional do politicamente correcto" e que termina assim:
Há ainda um aspecto significativo: de todas as tendências ocidentais, esta é a única que não tem aspirações universais. Os seus defensores, que combatem a separação entre brinquedos para meninos e meninas, nada têm a dizer sobre a segregação dos sexos nas comunidades islâmicas. A barbie indigna-os, mas a burqa não lhes diz nada. O politicamente correcto é um sinal do que pode vir a ser um Ocidente em declínio: uma aglomeração paroquial de pequenos lóbis identitários, em disputas absurdas, sob a vigilância de um poder despótico. Parece que era assim Bizâncio antes da conquista muçulmana..
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Ainda há uma esperança, qual é a de que tudo não passe de uma fase transitória. A maior parte do objecto do politicamente correcto tem perfil de moda: é, sobretudo, a agitação incontrolada de quem saiu recentemente do armário — com o tempo passa.
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