quarta-feira, 12 de julho de 2017

A ADMIRAÇÃO COMANDA A VIDA

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Jesse Prinz é professor de Filosofia na Universidade de Nova Iorque e escreveu recentemente um ensaio sobre... "admiração", no caso em apreço talvez a melhor tradução para wonder. E que diz Prinz? Diz coisas inéditas para muitos de nós, o que é obrigação de um filósofo.
Começa por recordar o que é a admiração — uma emoção. Mas emoções há muitas e recorda Descartes quando dizia ser a admiração uma emoção que motiva os cientistas a investigar fenómenos como o arco-íris e outras coisas estranhas. Descartes não adiantava muito, tal como Sócrates (o genuíno) que considerava ser a admiração a origem da Filosofia e o que nos leva a tentar compreender o mundo. Mais recentemente, nos nossos dias, Richard Dawkins diz-nos que a admiração é a fonte onde nasce a interrogação científica — os animais apenas procuram saciedade, segurança e sexo; o homem reflecte e tenta compreender. Está um bocadinho melhor.

Bacon considerava a admiração conhecimento imperfeito, ou "coxo" para usar expressão mais portuguesa, que só a a ciência pode curar.
Mas a ciência, sendo consequência da admiração, também ela é causa de admiração. Basta pensar, por exemplo, na eficiência da informação contida no nosso genoma, ou no comprimento somado dos neurónios contidos na caixa craniana, que dá para cobrir distâncias internacionais.
Mas admiração não é só impulsionadora de investigação e geradora de conhecimento: é também inspiradora de religiões. Nesse aspecto, até o terá sido antes de promover a ciência. A religião será a mais antiga forma de explicar o admirado, seja a alternância do dia e da noite, o arco-íris, as fases da Lua, o eclipse, o terramoto, ou a trovoada.
E, finalmente, refira-se outra actividade intelectual decorrente da admiração — a arte. A arte é muito mais antiga que a ciência e terá constituído, desde a sua origem, forma do homem expressar por suas mãos a emoção da admiração. Curiosamente, ou talvez não, tem andado desde sempre ligada à religião, o que não espanta. Os lugares de culto sempre tiveram preocupações estéticas e não é por acaso que grandes templos abrigam grandes obras. 

A admiração artística fomenta a admiração mística, também ela mística, ou quase mística. Em estudo feito pelo autor do ensaio e seus colaboradores, um conjunto de personalidades era confrontado com situação hipotética. A Mona Lisa havia sido quase completamente queimada num incêndio, pouco restando. Tinha sido possível fazer uma reprodução integral, impossível de distinguir do original, mesmo com as técnicas mais sofisticadas. Se fosse possível cada um dos entrevistados optar por ser possuidor de uma da versões, qual escolheria? Oitenta por cento optou pela "cinzas", isto é, não há aqui um critério racional da forma, antes um critério místico, quase irracional, ou mesmo irracional.
É assim a vida, Guterres dixit. A emoção comanda a vida — mais que o sonho. E nisso, a admiração vai à frente.

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