[...] Mas o principal problema com Angola não é esse, é outro e muito mais tóxico: é a maneira como o relacionamento entre Portugal e Angola parece ter assentado num sistema de cooptação mútua entre as oligarquias dos dois países. Os nossos oligarcas gostam de Angola, mas na medida em que a oligarquia local lhes deixa partilhar os privilégios de dona do país e dos seus recursos, e os oligarcas angolanos, por sua vez, apreciam Portugal, mas na condição de beneficiarem das cumplicidades e dos favores que, no nosso regime, tornam a lei mais igual para uns do que para outros. Eis como os senhores de Lisboa e de Luanda conseguem sentir-se mesmo em casa quando se visitam uns aos outros. Mas dessa maneira, o pior que há em Portugal tende a reforçar o pior que há em Angola, e vice-versa. [...]
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Rui Ramos in "Observador"
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