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Dois excerptos de uma crónica de António Lobo Antunes na revista "Visão" de 25 de Janeiro. Não carecem de contextualização para serem "de mestre"![..] Aos domingos um primo gordo, chamado Marciano, vinha buscá-la à tarde, cintilante de brilhantina, e sentavam-se num banco da praça sem falarem um com o outro, lado a lado apenas, com o primo Marciano a decapitar a cinza compridíssima do cigarro com a guilhotina do mindinho [...]
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[...] Os berros dos pavões ao fim do dia na mata, ao mesmo tempo próximos e distantes, ao mesmo tempo estranhos e humanos, a chamarem por mim. Às vezes, já de luz apagada, escutava-os ainda conforme escutava, baixinho, a buganvília do quintal ao longo do muro e o ciciar das árvores. Meu Deus a quantidade de ruídos de que o silêncio é feito, uma constelação de pingos de torneira, cochichos, vozes na sala, longíssimo, passos em bicos de pés, de quando em quando um riso, de quando em quando uma ameaça, tudo tão alarmante, misterioso. [...]
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