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Há muitos anos, tive um Director de Serviço Hospitalar que, além de velho e “perigosamente inteligente”, não poupava ninguém, fazendo-o de forma quase “desumana”. Não vou entrar em pormenores, mas conto um episódio. Era seu hábito fazer reuniões intermináveis dos médicos aos sábados de manhã, a uma hora em que sabia estar todo o mundo desejando “zarpar” ― quanto mais impaciência adivinhava, mais “empatava” com coisas insignificantes e os trabalhos não andavam nem “desandavam”.
Um belo Sábado, quando todos julgavam que a operação de detenção estava a chegar ao fim, fez mais uma pergunta qualquer sobre um doente também qualquer e, como a resposta tivesse sido conclusiva e sem margem de manobra para mais dilações, pediu para ver o processo do enfermo, que leu de ponta a ponta, com os óculos na ponta do nariz e ar depreciativo. Finda a leitura, no meio do maior silencio, atirou com a pasta para cima da mesa, ficou a olhar o vácuo durante segundos que pareceram horas ― seguramente porque não vislumbrava uma crítica arrasadora ― e declarou urbi et orbi: ESTÁ TOSCO!
É claro que a frase se tornou num ex-libris: se se falava de momento pouco feliz do Benfica, sempre alguém acrescentaria: está tosco! Se era um carro que tinha problemas, “está tosco”; se a farmácia do hospital não mandava este ou aquele medicamento pedido, “está tosco”; se rebabá, “esta tosco”.
E sabem quando me lembrei disto? Foi quando vi a fotografia mostrada em cima ― Jorge Jesus é, tenho a certeza, um homem sério, dedicado à profissão, trabalhador que procura melhorar a sua competência e incapaz de fazer sujeira no futebol. Mas… mas… mas… É Tosco...!*
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