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A idade do universo é matéria que tem dividido a
humanidade ao longo de séculos e ainda hoje assim acontece. O mais antigo e
fastidioso estudo sobre o assunto é, provavelmente, o de Jaime Ussher,
arcebispo de Armagh, na Irlanda, em 1624. Ussher procurou ligar passagens da
Bíblia com factos históricos e, depois dum trabalho ciclópico, informou o mundo
que o mundo tinha começado no dia 22 de Outubro de 4004 antes de Cristo. Para
ser mais preciso, Ussher acrescentava que foi às 6 horas da tarde.
A descoberta de Ussher tornou-se oficial em Inglaterra e
passou a figurar na introdução da Bíblia até ao Século XX. Contudo, a Teoria da
Evolução de Darwin descrevia factos que levavam muito mais que 6 mil anos para
se consumarem e fez pressão nos meios científicos para admitir que
a idade do universo poderia ser da ordem
de milhões, mesmo milhares de milhões, de anos.
Estudos geológicos sobre o tempo necessário para a
formação de rochas sedimentares apontavam para um número da ordem de vários milhões de anos. E
Lord Kelvin, partindo do princípio de que a Terra já teria estado a temperatura
para fundir rochas, e calculando o tempo necessário para arrefecer até à
temperatura actual, estimava a idade em 20 milhões de anos. John Joly, admitindo que os oceanos começaram por ser de água pura, determinou o
tempo necessário para se transformarem no mar salgado, das lágrimas de Portugal
de Pessoa, e chegou ao resultado de 100 milhões da anos. No início do Século
XX, os físicos descobriram que a radioactividade podia ser usada para calcular
a idade da Terra, o que levou à cifra de 500 milhões de anos. O apuramento da
técnica viria a apontar para número maior, da ordem de mil
milhões.
Cada nova técnica usada apontava para datas mais antigas,
tornando-se claro que a Terra e o universo eram provavelmente ainda mais velhos
e assim surgiu a ideia da eternidade do mundo. Se o universo existiu sempre, as
coisas simplificavam-se para a teoria científica—desaparecia a necessidade de
explicar como foi criado, quando foi criado, porque foi criado e quem o criou. Era
um alívio científico que só terminou com um conjunto de observações independentes
e convergentes de que o universo, tal como o conhecemos, teve um
princípio há cerca de 13,7 mil milhões de anos—a formação do hélio, a expansão
permanente, a constituição das galáxias, as micro-ondas cósmicas de fundo e por
aí fora apontam nesse sentido com enorme probabilidade da teoria estar certa.
Mesmo assim, não é líquido que antes não existisse nada, nem sequer o tempo.
Por isso, blá, blá, blá.
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