Eu não percebo o nada e estou em muito boa companhia nesta ignorância. Por influência cultural—filosófica e religiosa—convencionou-se que o nada é o estado natural e normal e a existência o estado que quebra a normalidade e tem de ser explicado. Mas nenhum facto permite afirmar que o contrário é falso, ou seja, o normal é a existência e o anómalo é o nada, fruto da nossa inteligência ou falta dela.
Estamos agarrados à ideia da origem da existência a
partir do nada, reforçada pela teoria do Big-Bang. Mas o problema é que antes
implica tempo e antes de Big-Bang não havia tempo—não há antes antes do
Big-Bang, se me é permitida a confusão sintáctica, porque no nada não há tempo
por definição. E sem antes não podia haver nada, o que também é confuso. Provavelmente,
a percepção limitada das dimensões do universo nunca nos permitirá compreender nem
o nada, nem a existência, o que é supinamente frustrante, convenhamos. É a vida!
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