Einstein disse em tempos que o senso comum é um conjunto de preconceitos adquiridos por volta dos dezoito anos. Como todas as boutades é um exagero com algum fundamento. Lembrei-me disto ao ler sobre Aristarco de Samos, filósofo grego nascido no ano 310 AC e derrotado ingloriamente pelo senso comum.
Aristarco, além de contribuir para a determinação da distância da Terra ao Sol, coisa mais que notável, teve a inspirada ideia de que aquela girava em volta do astro-rei—e não o contrário—e girava também em volta do seu eixo. Os gregos eram homens sábios e, contudo, não acreditaram em Aristarco. E porque não? Pela singela razão de que isso era completamente contra o senso comum. Aí está!
Primeiro, porque estava mesmo a ver-se que, se fosse assim, a Terra teria que andar a velocidade tal que haveria uma ventania de não se poder sair de casa, muito pior que andar no TGV com a cabeça de fora. Depois, as coisas caiam ao chão porque o centro da Terra era o centro do universo, estava bom de ver. Se fosse o Sol o centro, a maçã de Newton caía da macieira em direcção ao Sol, pois claro. Finalmente, se a terra andasse a passear-se, o alinhamento das estrelas ia variando por efeito da paralaxe, o que não acontecia. Em resumo, encadeamento de asneiras, hoje muito fácil de demonstrar. HOJE! Isso mesmo—HOJE.
E AMANHÃ? AMANHÃ vai ser fácil demonstrar as asneiras de HOJE.
E tal não se aplica à ciência em exclusividade—aplica-se a quase tudo. Serve isto
para dizer que, em matéria do intelecto, tudo é provisório e certo até prova de
que está errado. Ironicamente, a última afirmação também faz parte do senso
comum.
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