sábado, 25 de outubro de 2014

'AGGIORNAMENTO'

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Anselmo Borges é professor de Filosofia, é teólogo, é sacerdote católico e tem, provavelmente, mais qualificações que não conheço. Sei que há quem ache Borges irrelevante, mas não dou muita atenção a isso porque, globalmente, gosto do que escreve. Hoje, como habitualmente aos domingos, publica no DN uma crónica, intitulada "Igreja, sexo e família". Fala do último Sínodo em Roma e, a páginas tantas, do que aí virá, segundo ele. Destaco dois pontos.

No primeiro, escreve: Será reconhecido o valor dos casamentos civis e também das uniões de facto e da coabitação, que até poderão, nalgumas circunstâncias, desembocar no sacramento do matrimónio. Quantos sabem que só a partir do século IX foi exigida no casamento a presença de um padre e só no século XII se começou a definir o matrimónio como sacramento? (Fim de citação)

Esta matéria faz corpo com outras situações que não constituem tradição original da doutrina e foram criadas muito depois da morte de Cristo. Umas já "caíram", de morte natural ou "matada", outras mantêm-se, algumas delas muito desenquadradas no tempo actual.

No segundo, diz: Em todos estes pontos vale um princípio tradicional, retomado por Bento XVI, quando era professor: "Acima do Papa encontra-se a própria consciência, à qual é preciso obedecer em primeiro lugar; se fosse necessário, até contra o que disser a autoridade eclesiástica".(Fim de citação)

Aqui, Borges faz claramente coro com o Papa actual ao relativizar a importância da chamada autoridade eclesiástica que—salvando o devido respeito por melhor opinião—é frequentemente muito pouco cristã. Protagonizada por gente que ainda não se libertou das teias de aranha mentais do tempo do poder temporal da Igreja, e apoiada inesperada e burocraticamente em códigos de "Direito Canónico", a autoridade eclesiástica, tal como existe, está fora do contexto.

Frei Bento Domingues escrevia há dias: As religiões são expressões públicas e sociais da fé. O legalismo e o ritualismo tendem a envenenar a sua vida concreta. Chegam a querer substituir-se à liberdade de Deus e à consciência humana. A lei e o ritual pretendem traçar o caminho a Deus e aos seres humanos: ou passam por ali ou não passam(Fim de citação) Tal e qual—não vejo como possa ser dito melhor.
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