Anselmo Borges é professor de Filosofia, é teólogo, é
sacerdote católico e tem, provavelmente, mais qualificações que não conheço. Sei
que há quem ache Borges irrelevante, mas não dou muita
atenção a isso porque, globalmente, gosto do que escreve. Hoje, como
habitualmente aos domingos, publica no DN uma crónica, intitulada "Igreja,
sexo e família". Fala do último Sínodo em Roma e, a páginas tantas, do que
aí virá, segundo ele. Destaco dois pontos.
No primeiro, escreve: Será
reconhecido o valor dos casamentos civis e também das uniões de facto e da
coabitação, que até poderão, nalgumas circunstâncias, desembocar no sacramento
do matrimónio. Quantos sabem que só a partir do século IX foi exigida no
casamento a presença de um padre e só no século XII se começou a definir o
matrimónio como sacramento? (Fim de citação)
Esta matéria faz corpo com
outras situações que não constituem tradição original da doutrina e foram criadas
muito depois da morte de Cristo. Umas já "caíram", de morte natural
ou "matada", outras mantêm-se, algumas delas muito desenquadradas no tempo actual.
No segundo, diz: Em todos
estes pontos vale um princípio tradicional, retomado por Bento XVI, quando era
professor: "Acima do Papa encontra-se a própria consciência, à qual é
preciso obedecer em primeiro lugar; se fosse necessário, até contra o que
disser a autoridade eclesiástica".(Fim de citação)
Aqui, Borges faz claramente coro com o Papa actual ao relativizar a importância
da chamada autoridade eclesiástica que—salvando o devido respeito por melhor
opinião—é frequentemente muito pouco cristã. Protagonizada por gente que ainda
não se libertou das teias de aranha mentais do tempo do poder temporal da
Igreja, e apoiada inesperada e burocraticamente em códigos de "Direito Canónico",
a autoridade eclesiástica, tal como existe, está fora do contexto.
Frei Bento Domingues escrevia há dias: As religiões são expressões públicas e sociais da fé.
O legalismo e o ritualismo tendem a envenenar a sua vida concreta. Chegam a
querer substituir-se à liberdade de Deus e à consciência humana. A lei e o
ritual pretendem traçar o caminho a Deus e aos seres humanos: ou passam por ali
ou não passam. (Fim de citação) Tal e qual—não vejo como possa ser dito melhor.
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