Rui Machete é uma ternura. Ministro dos Negócios Estrangeiros sem negócios para ministrar, mantém-se calado, não vá alguém perceber que não tem serventia. Mas, volta não volta, sente necessidade de fazer prova de vida e diz. E que diz Machete? Por norma, bacoquices.
Machete é da minha idade e, como expectável, está um
bocado gasto. A necessidade de participar nos 2.784.567 órgãos sociais de igual
número de empresas deixou-o qual corredor em fim de maratona—com a língua de
fora. Quando abre a boca, que não seja para exteriorizar a dita língua, ou providenciar o sustento vital, sai
asneira. Mas, reconheçamos que Machete, pelo menos uma vez por semestre, tem
de dizer qualquer coisa. E cumpre disciplinada e regularmente tal mister, honra
lhe seja feita. O problema é o débito—não dívida, mas fluxo.
O fluxo verbal de Machete é quantitativamente moderado. Está
correcto. Machete é parco. Escolhe as palavras. O desacerto de Machete reside
no tema. Tanto quanto sei, Machete é assíduo no Conselhos de Ministros, onde
está atento e tira notas para uso futuro. Diz-se que Machete não
percebe tudo que ouve em tais reuniões.
Não sei se é verdade mas, quando se aproxima o dia de fazer prova de vida,
consulta os apontamentos, escolhe um tema e não fala—eructa.
Na realidade, o que Machete eructa é irrelevante do ponto de vista nacional e internacional. O problema é
que a imagem clássica do chefe da diplomacia não é de alguém que eructa em público. E Machete
fá-lo. Não é muito grave, mas dá mau aspecto. Ninguém está a ver um ministro
que se senta na maior cadeira do Palácio das Necessidades a eructar
audivelmente. Para evitar essa cangalhada de remodelações, acho que o
Governo devia providenciar um silenciador para os alívios de Machete. Não se
crie uma crise por isso.
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