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Ontem o Papa desancou os jarretas esclerosados da Cúria
Romana, exactamente da forma como devia, sem se preocupar com etiquetas. O que
disse o Papa já toda a gente sabia; mas, dito por ele, tem outro sabor.
Ouço e leio há anos que a Cúria está infiltrada por "gente
carreirista" (o Papa falou nisso); pelos que "protegem os interesses
de um círculo fechado" (o Papa falou neles); pelos doentes de Alzheimer espiritual
que se esqueceram de Deus e "vivem dependentes das suas paixões, caprichos
ou obsessões" (o Papa falou neles); pelos que “tentam preencher o vazio
existencial arrebanhando bens materiais” (o Papa falou neles); pelos que "cultivam
a má língua", "doença dos cobardes" (o Papa falou neles); pelos
"semeadores da discórdia"(o Papa falou neles); pelos "assassinos
a sangue frio da reputação dos seus irmãos" (o Papa também falou neles).
Em consequência, o Papa convidou os cardeais a fazerem um “verdadeiro
exame de consciência”, pedindo perdão a Deus, “Ele que nasceu na pobreza numa
caverna em Belém para ensinar a humildade” e foi acolhido “não pelos eleitos”,
mas pelos “pobres e simples”. Ao contrário, disse, a Igreja actual padece de “infidelidades”
e está ameaçada por doenças que urge “tratar”.
Coisa mais clara, lúcida e corajosa nunca tinha ouvido, visto ou conhecido
no Vaticano. Vinte valores para Francisco. Há décadas que não se via uma
coisa assim. E digo décadas porque só nasci há 75 anos e não conheço suficientemente o passado para dizer séculos, o mais provável. Mas desta foi: só se
perderam as que caíram por fora.
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