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....[...] Infelizmente para nós a solução governativa que permitiu a António Costa ser primeiro-ministro desmontar-se-á porque um dia os portugueses serão confrontados de novo com um outro desastre. Já foi assim com José Sócrates e receio que venha a ser assim com António Costa. São os desastres, o imprevisível, o que vem de fora da cidadela mediática de Lisboa, que fazem os governos socialistas chegar ao fim.
Por muito que nos custe quem pôs fim à carreira de Sócrates não foi a capacidade da oposição para desmontar a sua demagogia mas sim a Justiça pois nem esse momento em que teve de fazer o pedido de ajuda externa foi suficiente para mostrar a mentira em que se baseavam as suas políticas, que aliás voltaram agora para gáudio dos seus antigos promotores. Estes últimos, devidamente desembaraçados do seu anterior patrono (é aliás vergonhoso o espectáculo dessa gente que agora faz de conta que não conhece Sócrates de parte alguma), voltaram ao poder com Costa e já começam a esvoaçar em torno de Fernando Medina que para efeito da sagração mediática já recebeu o cognome que Sócrates arvorava nos seus belos tempos: menino de ouro.
A diabolização de quem a contesta – agora é austeridade já foram o neoliberalismo, o fascismo, a reacção, o capitalismo, o imperialismo – tem bastado à esquerda não apenas para ganhar as eleições mas, não menos importante, para questionar a legitimidade de qualquer um que mesmo tendo mais votos não tenha o seu aval. Donde a catástrofe, resulte ela de um incêndio ou de um factor externo, como os mercados, que não se conseguem controlar com a verborreia do costume, se ter tornado naquilo que os socialistas realmente temem. Quanto ao resto têm tudo sob controlo. Tudo, mas mesmo tudo, senhor Presidente*.
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Helena Matos in "Observador"
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*É preciso “apurar tudo, mas mesmo tudo, o que houver a apurar” (Marcelo Rebelo de Sousa)
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