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[...] Na quarta-feira, o exacto dia em que a nomenclatura do regime compareceu pesarosa ao funeral de um bombeiro, o Presidente da República declarou que a “unidade nacional” perante a tragédia “mostra bem como somos uma nação antiga e uma nação muito forte”. À superfície, tais palavras são apenas um deprimente vazio. Sucede tratar-se do exacto PR que, entre abraços sortidos, ocupou os minutos iniciais que os noticiários dedicaram ao incêndio para garantir que fora feito tudo o que se podia fazer. Pelo meio, o país tomou conhecimento de dezenas de mortos e da radical desorientação ou impotência das autoridades. E o país viu-se atacado por uma operação, talvez inédita, de manipulação informativa liderada pelo governo e patrocinada por boa parte dos “media”. O país que quis perceber percebeu que a “nação muito forte” é uma coisinha débil, e que a “unidade nacional” é uma estratégia repugnante para, em nome das vítimas, socorrer os suspeitos. Note-se que não acuso ninguém. Não é preciso: os esforços para suprimir culpas são a sua maior admissão.
A “incompetência do Governo não pode encontrar justificação na meteorologia”, berrava o BE em 2015, face a 28 mil hectares queimados e, suponho, morto nenhum. Agora, a actriz Catarina Martins implora no Twitter: “Que venha a chuva. Bom dia”. A brandura é partilhada pelo PCP, o qual, salvo por um patético “pedido de esclarecimento”, refugiou-se no luto. “Luto”, aqui, é código para “ganhar tempo”. Não surpreende a cumplicidade dos partidos comunistas no arranjo. Não surpreendem os esforços do PS na elaboração do arranjo. Não surpreende o aval do PR ao arranjo, visto que já só os ceguinhos não vêem a verdadeira função do prof. Marcelo. E não surpreende a ajuda das televisões e dos jornais à eficácia do arranjo. [...]
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Alberto Gonçalves in "Observador"
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