sábado, 24 de junho de 2017

NAVEGAÇÃO À VISTA

Leio na Net, citando Marcelo Rebelo de Sousa, o seguinte: Após ter começado por pedir união e solidariedade no momento da tragédia em Pedrógão Grande, onde um incêndio descontrolado e de grandes dimensões levou à morte de 64 pessoas, agora é preciso apurar tudo o que se passou, “mesmo tudo”, “no plano técnico” e “no institucional”.
Portanto, há o "tudo" e há o "mesmo tudo", que não são exactamente a mesma coisa. Ou seja, o "mesmo tudo" contém mais que o "tudo". Talvez o leitor ache a diferença subtil, mas existe, e o que interessa neste apuramento é o "mesmo tudo".
Não sei explicar bem porquê, mas a conversa de Marcelo sugere-me a navegação à vista. Os marinheiros dos descobrimentos percorriam rotas desconhecidas, muitas vezes sem cartas e com pouquíssimos instrumentos de navegação, e as referências que os guiavam eram as estrelas e as terras litorais, ou seja, a vista da costa (não do Costa!). O objectivo era chegar o mais longe possível, ficar a "conhecer o caminho" e manter a capacidade de regressar.
Deste ponto de vista, Marcelo é um "navegador". Não procura novos mundos para dar ao Mundo, mas procura popularidade, afectos, louvaminhas, bajulice, incenso e adulação. Não vive sem isso. Está atento e é venerador à — e da — opinião pública e deve babar-se ao pequeno almoço quando lê os jornais com fotografias suas a abraçar e beijar velhas de bigode e carrapito.
Sempre disponível e inspirado para dizer o que cai melhor na ocasião, e atento à reacção para o acto seguinte, qual é sempre outra "boca" que pode ser nova ou a correcção da anterior, como faziam os marinheiros de quinhentos ao avistar um cabo ou uma ilha em rota de colisão. Dá uma no cravo e outra na ferradura, em navegação à vista e amanhã logo se vê.
Marcelo não deve usar ceroulas de malha, como o "Dantas" de Almada Negreiros; mas é um habilidoso como ele. E mais, digo eu: Marcelo é um impostor. PIM!

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