Paradoxal? Os paradoxos não nos atrapalham. É por isso que enquanto nos queixamos da crise estamos dispostos a legitimar nas urnas o exacto partido que apressou a crise e as exactas alucinações que tornaram a crise obrigatória. Como o maluquinho que volta a enfiar o dedo na tomada depois de cada choque, uma impressionante quantidade de portugueses não aprende. E é duvidoso que venha a aprender. [...]
[...] Num debate televisivo, Isabel Jonet, presidente do
Banco Alimentar Contra a Pobreza, cometeu o erro de opinar sobre aquilo que os
pobres devem fazer e ofendeu os que opinam sobre o que os pobres devem sentir.
Está bem uma para os outros? Nem tanto: aprecie-se ou não a abordagem, o facto
é que a dra. Jonet já ajudou imensos necessitados. O mesmo não se pode dizer de
muitos dos que, cheios de arrogância pelintra, a insultam. Além dos insultos,
prometem no Facebook deixar de contribuir para o Banco Alimentar, o que, no
estapafúrdio pressuposto de que alguma vez tivessem contribuído, mostra a
consideração dessa gente pelos pobres, os quais ou comem sob as condições
ideológicas adequadas ou passam fome. Consta que a larica aprimora o espírito.
[...]
Alberto Gonçalves in
"Diário de Notícias"
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