domingo, 4 de novembro de 2012

O PREÇO DA SAÚDE GRATUÍTA

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Não foi daquelas notícias que abrem os "telejornais". A bem dizer, nem foi notícia de todo, só uma história que corre na "blogosfera" e no site Base, dedicado à exposição dos contratos públicos. Refiro-me, como não devem ter percebido, ao contrato por ajuste directo celebrado em Maio de 2011 (a data tem graça) entre a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra e a firma António Arnaut e Associados. O acordo visa a prestação de assessoria jurídica, a qual será naturalmente excelentíssima. Menos natural e menos excelente é o dito acordo custar ao erário público 43 200 euros por um período de três anos. Não é que a verba seja particularmente elevada: o engraçado é o destinatário da verba ser o celebrado "pai" do Serviço Nacional de Saúde.
É muito feio um pai aproveitar-se do filho, para cúmulo quando este anda pelas ruas da amargura e aquele aparece dia sim, dia não a afirmar a importância de um SNS gratuito. A 29 de Outubro, o dr. Arnaut garantiu que o PS nunca permitirá o "desmantelamento" do Estado "social" e, por inerência, o fim do SNS. A 27 de Outubro, o dr. Arnaut afirmou que o SNS é perfeitamente sustentável. A 7 de Outubro, o dr. Arnaut prometeu lutar contra a "voracidade privatizadora" do Governo, incluindo, presume-se, no que toca ao SNS. E um longo etc., que o dr. Arnaut apenas interrompe a ladainha em prol da saúde universal e gratuita para publicitar as virtudes da maçonaria a que pertence, segundo ele reservada aos que possuem "qualidades de carácter, honra e probidade".
Sem dúvida que é necessário carácter, honra e probidade para um sujeito passar boa parte da vida a assegurar a saúde dos desvalidos sem qualquer interesse que não o da felicidade alheia. Já quando envolve lucros respeitáveis, o altruísmo empalidece um bocadinho. Encher a boca com moral e os bolsos com dinheiro não parece a maneira ideal de, nas abençoadas palavras do próprio dr. Arnaut, "evitar que a riqueza de uns continue a fazer-se à custa da pobreza dos outros".
Mas isso sou eu, que ainda estranho estas coisas. Como estranho a atitude dos media, que são tão solícitos a pedir a opinião do dr. Arnaut a propósito de tudo e de nada e não lhe pediram para opinar sobre o assunto. Se calhar, o assunto não passa de uma calúnia, maquinada por blogues intriguistas e um "portal" nas mãos do Governo. Nesse caso, envio imediatamente ao dr. Arnaut as minhas desculpas. Caso contrário, aguardo as desculpas dele. 
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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