O nada não existe. Se pensarmos sucessivamente na eliminação do conteúdo do universo, começando, por exemplo, pelo Sistema Solar e continuando com a nossa galáxia e depois todas as outras, chegamos à situação de ter só espaço vazio, que ainda é alguma coisa. Mas, eliminado esse espaço, ainda fica a nossa consciência que tinha acabado de eliminar quase tudo. E, eliminando a nossa consciência, chegamos ao ponto de existir o nada e a existência do nada ainda é alguma coisa, porque é um facto e havendo um facto não há nada, blá, blá, blá.
O que é o nada? Matematicamente é o zero, mas o zero é um
número controverso. A palavra deriva do hindu sunya, que significa vazio ou
vácuo, mas vazio ou vácuo não é igual a nada. Os gregos e os romanos nunca
aceitaram o zero e as suas numerações não o continham. Aliás, o zero é um
número complicado. Na Matemática diferenciada há a convicção que a transição do zero para o
um é impossível. E repare-se que só há dois outros números com a mesma
característica, qual é a de ser impossível chegar a ele somando dois números
inferiores—além do 1, só o infinito tem a mesma propriedade porque nunca se
chega ao infinito somando números finitos. Aparentemente, o um e o infinito
estão nas duas extremidades da numeração e o zero está a mais—é um supranumerário
na numeração (eh, eh, eh...).
O nada, ironicamente, é talvez a coisa que tem dado mais que
fazer aos filósofos que qualquer outra coisa, embora não se possa falar assim
porque o nada não é uma coisa. Parmenides, filósofo pré-socrático, dizia que
ver o nada é não ver, falar ou pensar nele é não falar ou não pensar e
aproximar-se dele é não progredir. Então, se não podemos ver, falar, pensar ou aproximar,
não faz sentido sequer admiti-lo.
Sei que a conversa se assemelha a bolhinhas a sair da
boca dum peixe no aquário, mas a matéria é boa para pensar na cama quando há
dificuldade em adormecer—é hipnótica; recomendo.
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