Militares semi-uniformizados, não uniformizados, ridiculamente uniformizados, participaram ontem numa manifestação de praças, sargentos e oficiais contra as medidas de austeridade destinadas a diminuir a despesa do Estado, coisa que todos reclamam e ninguém quer. Como diz Alberto Gonçalves citado em baixo, os cidadãos andam irritados porque o Governo aumenta os impostos para não bulir no Estado; mas quando bulir, andarão irritadíssimos—os militares já andam, digo eu.
Todos estamos a sofrer consequências do ataque governamental, seja na Saúde, na Segurança Social, na Educação, nas Finanças. Os militares não são excepção e, convenhamos até, gozam de algumas mordomias que outras classes profissionais não têm. Mas reagem como se fossem das maiores vítimas e manifestam-se como classe especialmente ofendida—não é!
A movimentação é sobretudo intimidatória porque inclui,
de forma encapotada, a ameaça de intervenção da força na vida política, coisa
não admissível na actual situação do País—não somos uma república sul-americana
na Europa. Há frases, ou palavras de ordem que, além do ridículo sintáctico, são
inesperadas—"Militares tudo farão para não reprimir indignação dos
portugueses" é uma delas. Isto é, tudo farão para não fazer.
Reduzir a despesa pública é doloroso e tem de atingir todos
de forma equitativa, eliminando situações especiais e não cabalmente justificadas,
como acontece nas Forças Armadas, na Justiça, nas autarquias e por aí fora. Os
senhores militares não estão a ser mais sacrificados que a generalidade dos
compatriotas. Por isso, manifestem-se em conjunto com eles e não façam paradas
privadas que, além do mais, não favorecem a imagem pública da instituição.
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