Escrever é actividade lúdica que ajuda a manter os neurónios, mas com um problema: ter tema para a praticar. Quase todos os dias luto com isso. Digo quase todos porque, normalmente, às terças-feiras, tenho—qual musa inspiradora—o pensamento do Dr. Soares vertido na crónica do "Diário de Notícias", fonte de transcendência, guião de estilo, exemplo de isenção e inesperada manifestação de lucidez cada vez mais rara neste torrão. O Dr. Soares é a reserva da fecundidade na análise política em Portugal. Cidadão que lê tudo—um bibliógrafo, como já teve ocasião de nos informar—homem de larga compreensão e cultura, longe dos mesquinhos centros politiqueiros nacionais, é a tacada semanal que mantém o pensamento do cidadão a rolar, qual bola de bilhar no pano verde—tal como a bola de bilhar, a rolar para o buraco.
Hoje o senador começa com a República e não passa à terceira
frase sem antes se aliviar com um vibrante "Viva a República!" Faz
depois considerações sobre República e democracia e dá como exemplo de coabitação
das duas a Primeira República. O Dr. Soares não deve ter lido a crónica de
ontem de Vasco Pulido Valente sobre tal República—nem essa, nem nenhuma, porque
o Dr. Soares não deve ler nada (toca de ouvido)—mas, mesmo que o fizesse,
consideraria Pulido Valente uma nulidade indigna da sua atenção.
Uma coisa comove na peça desta semana—a grandeza da alma do Dr. Soares
quando escreve: "Será que Passos
Coelho não percebe que deve sair do poder e do País antes das eleições
legislativas de Outubro de 2015, e de
tudo mudar? Se assim for corre um grande risco. Deve pensar duas vezes e sair a
tempo. Antes que tudo mude e possa vir a ser julgado. Quem o avisa seu amigo
é..." Afinal o Dr. Soares é amigo de Passos Coelho!
Discorda republicanamente dele, mas estima-o. E está preocupado com o futuro do
jagodes! Para ser franco, eu não estou.
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