Recentemente,
António José Saraiva escreveu no "SOL":
Há quatro anos,
era José Sócrates ainda primeiro-ministro, escrevi uma crónica onde lhe chamei
«o Vale e Azevedo da política».
Porquê?
Conhecia
pessoalmente os dois, falei com eles em várias ocasiões, e percebi que tinham
uma característica em comum: não distinguiam entre a verdade e a mentira.
Diziam verdades e
mentiras exactamente com a mesma cara e a mesma convicção.
Não se podia
afirmar que ‘mentiam’, pela simples razão de que os seus códigos mentais eram
outros.
Um dia, num
almoço a dois no Pabe, Sócrates disse-me que tinha decidido abandonar a
política e ia fazer um mestrado em Londres.
Confidenciou-mo
de coração aparentemente aberto, dizendo-me que a política era uma actividade
madrasta, que todos saíam de lá mal (Guterres tinha-se demitido pouco tempo
antes), pelo que decidira seguir outra vida.
Quando cheguei ao
jornal, comuniquei isto à jornalista que acompanhava o PS, para fazer uma
notícia.
Perante a minha
surpresa, ela respondeu-me: «Isso é falso. Sócrates está neste momento a fazer
contactos para concorrer à liderança do PS».
Hoje leio no "Público":
Quando o meu avô morreu, a minha mãe herdou uma fortuna,
muitos prédios, andares, que ainda hoje ela não sabe o que fazer com eles.” Foi
assim que José Sócrates falou pela primeira vez, em Outubro do ano passado,
numa entrevista ao "Expresso", sobre a suposta fortuna da mãe. Na
verdade, nesse dia, a senhora já praticamente nada tinha, além do modesto
rés-do-chão em que vive em Cascais, de uma arrecadação em Setúbal e de uma
terça parte de uma casa na sua aldeia natal, em Trás-os-Montes.
Em resumo, o homem—"epistoleiro do costume"—é um
aldrabão compulsivo. Conheço pessoas assim. Uma delas foi meu colega no liceu—esquece-se,
inclusivamente, do que disse na véspera e diz o contrário no dia seguinte. Não
o faz por mal; é doença que não prejudica ninguém porque as mentiras são inofensivas
e ridículas na maior parte das vezes.
O problema é grave quando a tara se manifesta no comportamento
e envolve compromissos sociais, negócios, política, e por aí fora. Habitualmente
desagua na cadeia, como aconteceu com Vale e Azevedo e acontecerá,
provavelmente, com o Zezito. Não tenho nenhum ódio contra o homem. Mas sempre
me irritou a sua performance, suspeita de trampolinice e banha de cobra. E não lhe perdoo ter levado o País à ruína, provavelmente para se governar. A Justiça
dirá o que acha. Mas é minha convicção que vai ser difícil haver um happy end
para tal jagodes.
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