Quantas vezes já ouviu a expressão "quando as galinhas
tiverem dentes", usada—por exemplo—para dizer quando a dívida portuguesa será
paga? Seguramente, muitas vezes.
Acha que as galinhas terão dentes um dia? Acha que não, com
certeza, e é provável que tenha razão. E se lhe perguntarem se elas alguma vez
tiveram dentes? Fica atrapalhado, talvez.
Parece conversa de encher chouriços, mas já deu azo a
grandes investigações científicas na Universidade da Califórnia. Para ter
resposta, o ideal seria estudar fósseis de antepassados das aves para verificar se
tinham dentes ou vestígios, mas tais fósseis não existem. Contudo, a imaginação
e a criatividade conseguem muita coisa.
Os investigadores determinaram quais os genes que codificam
a síntese de constituintes dos dentes nos vertebrados—os que os têm—e
verificaram se as aves tinham tais genes. Têm, mas com mutações que os tornam
não operacionais. Aí está! Os antepassados das aves tinham dentes e deixaram de
os ter na sequência de mutações nos genes necessários para os fabricar.
E mais! As mutações eram as mesmas nas 48 espécies das aves
estudadas, podendo deduzir-se que todas tiveram o mesmo antepassado; um réptil,
segundo parece, que terá ficado desdentado—com edentulismo, assim se chama a
situação—há 116 milhões de anos; tempo este que pode servir de bitola para
estimar quanto demorará Portugal a pagar a dívida que o Zezito nos legou: um
período de edentulismo das aves, dois períodos de edentulismo, três períodos, e
por aí fora. Ganda Zezito!...
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