Recentemente, um grupo de investigadores decidiu "pegar" em 100 trabalhos publicados em três revistas de
referência de Psicologia e tentou reproduzir os resultados descritos nessas publicações.
Mais de metade do publicado não era reproduzível!
Porquê?
Com muita probabilidade, não se tratava de fraude, antes
incompetência ou uso de critérios de avaliação incorrectos. Os trabalhos
científicos publicados na maioria das revistas são objecto, previamente à
publicação, do que se chama peer review,
o mesmo que revisão por pares, habitualmente qualificados. O problema é que os
pares não tentam reproduzir os ensaios feitos e limitam-se a fazer a apreciação
global do trabalho, partindo do princípio que os resultados registados estão
acima de qualquer suspeita; e algumas vezes — muitas? —não estão. Há algum modo
de evitar isto? Há, mas na prática não há. O método científico não é perfeito,
porque nada humano o é, embora o tempo, em regra, ponha as coisas no seu lugar.
Serve esta conversa para dizer uma coisa importante e um tanto inesperada: a
História da Ciência tem parido enormes "abortos". Vou dar um exemplo.
O Prémio Nobel da Química Linus Pauling um dia "mandou a
boca" de que a vitamina C, em doses enormes, fazia a profilaxia das "constipações"
e até da gripe. Nunca se havia feito nenhum estudo sério sobre isso, mas
Pauling era Prémio Nobel e, portanto, devia saber do que falava — infelizmente,
não sabia.
A conversa de Pauling tinha sido vendida pelo seu "médico"
Irwin Stone, que nem médico era: tinha
dois "diplomas honorários" duma
escola por correspondência não certifitada, um curso de "Medicina"
Quiropática e tomava 3 gramas de vitamina C por dia. Chegados aqui,
perguntar-se-á quantas toneladas de vitamina C foram inutilmente tomadas em todo o mundo com a conversa dele?
Mas a história do "Dr.Stone, cujo
nome deve estar em consonância com a dureza da sua cabeça, é apenas um ícone do
fenómeno da ingenuidade humana. Quantos papagaios nos aparecem todos os dias na
televisão a papaguear stonices? E
quantos nos bombardeiam com teorias tiradas de estudos do tipo dos 100 de que
falava no início desta prosa? Muitos... Mais que as mães... Seja
sobre futebol, política, economia, História Universal, história da fuga dos
chatos para o Egipto, citações filosóficas de Jorge Jesus, ou sobre a Teoria
das Cordas da Física Atómica.
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