sexta-feira, 2 de junho de 2017

REMEMBERING WHEN

,

Acordamos graças a um relógio despertador e entramos no dia regulado pelo tempo o encontro, a visita, a conferência, o almoço, estão todos previstos para uma hora  própria. Coordenamos a nossa actividade com a dos outros porque todos concordamos, implicitamente, seguir um sistema único de medir o tempo, baseado no inexorável nascer do dia e cair da noite. Com o  curso da evolução, o homem desenvolveu um relógio biológico regulado por este ritmo alternado de luz e sombra.  Tal relógio, situado no hipotálamo do cérebro, governa o que chamamos tempo somático ou corporal. Mas há outro tipo de tempo simultâneo. O "tempo mental"  que tem a ver com a forma como experimentamos a passagem do tempo e organizamos a cronologia. A despeito do regular tic-tac do relógio,  a duração pode ser rápida ou lenta, longa ou curta.  E esta variabilidade pode ocorrer em diferentes escalas, de décadas, estações, semanas, e horas, até ao mais breve intervalo da música, a duração duma nota ou o período de silêncio entre duas notas. Também colocamos acontecimentos no tempo, decidindo quando ocorrem, por que ordem e em que escala, seja de uma vida ou de alguns segundos. Como a mente se relaciona com o relógio biológico do tempo corporal, não sabemos. Também não é claro se o tempo mental depende dum único centro de registo, ou se as nossas experiências de duração e ordenação no tempo assentam primariamente, mesmo exclusivamente, num processamento da informação. Se a última alternativa se verificar certa, o tempo mental deve ser condicionado pela atenção que damos aos acontecimentos e pelas  emoções que temos  quando ocorrem. Devem ser também influenciadas pelo modo como registamos os eventos e as inferências que fazemos  quando os  percebemos e recordamos.

António Damásio: "Remembering When", in "A Question of Time, The Ultimate Paradox", American Scientific, 2012.

.

Sem comentários:

Enviar um comentário