Acordamos graças a um relógio
despertador e entramos no dia regulado pelo tempo — o encontro, a visita, a conferência, o almoço, estão
todos previstos para uma hora própria.
Coordenamos a nossa actividade com a dos outros porque todos concordamos, implicitamente,
seguir um sistema único de medir o tempo, baseado no inexorável nascer do dia e
cair da noite. Com o curso da evolução,
o homem desenvolveu um relógio biológico regulado por este ritmo alternado de
luz e sombra. Tal relógio, situado no
hipotálamo do cérebro, governa o que chamamos tempo somático ou corporal. Mas há
outro tipo de tempo simultâneo. O "tempo mental" que tem a ver com a forma como experimentamos
a passagem do tempo e organizamos a cronologia. A despeito do regular tic-tac do relógio, a duração pode ser rápida ou lenta, longa ou curta. E esta variabilidade pode ocorrer em
diferentes escalas, de décadas, estações, semanas, e horas, até ao mais breve
intervalo da música, — a duração duma nota ou o
período de silêncio entre duas notas. Também colocamos acontecimentos no tempo,
decidindo quando ocorrem, por que ordem e em que escala, seja de uma vida ou de
alguns segundos. Como a mente se relaciona com o relógio biológico do tempo
corporal, não sabemos. Também não é claro se o tempo mental depende dum único
centro de registo, ou se as nossas experiências de duração e ordenação no tempo
assentam primariamente, mesmo exclusivamente, num processamento da informação.
Se a última alternativa se verificar certa, o tempo mental deve ser
condicionado pela atenção que damos aos acontecimentos e pelas emoções que temos quando ocorrem. Devem ser também
influenciadas pelo modo como registamos os eventos e as inferências que
fazemos quando os percebemos e recordamos.
António Damásio: "Remembering When", in "A Question of Time, The Ultimate Paradox", American Scientific, 2012.
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